quarta-feira, 11 de junho de 2025

Cantora paraense denuncia o turismo sexual na Ilha do Marajó em reality show

Cantora Paraense denuncia turismo sexual na ilha do Marajó em reality show e repercussão nas redes sociais leva autoridades à investigarem possíveis notícias falsas sobre o caso

Mariana Silvestre

Fonte: marisilvestre2007@gmail.com

Em: 06/06/2025

    Aymeê é uma cantora e compositora gospel vinda de Belém no Pará e viralizou após a semifinal do programa de televisão “Dom Reality” por citar brevemente em sua canção “Evangelho de Fariseus” o turismo sexual que é financiado pela exploração infantil na Ilha do Marajó. A música é autoral e a cantora fez um relato sobre uma realidade que não vive, porém presencia por viver perto da região.


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Cantora Aymeê em reality show "Dom Reality"

    “Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, minha terra...Marajó é muito turístico, e as famílias de lá são muito carentes. As criancinhas de 6 e 7 anos saem numa canoa e se prostituem por 5 reais”, revelou aos jurados. 


O que é o turismo sexual e qual a sua relação com a exploração sexual infantil 

De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT) o turismo sexual são viagens organizadas com o intuito de se aproveitar sexualmente dos moradores do destino. Normalmente regiões de maior vulnerabilidade são o maior foco da prática, a situação de vida carente faz com que essa seja a única fonte de renda desses moradores que muitas das vezes enviam crianças e adolescentes para esse trabalho. 

A Ilha de Marajó já é conhecida por conter esse tipo de realidade. Uma das primeiras denúncias que chamou atenção das autoridades sobre o caso foi feita pelo bispo Dom José Luis Azcona que luta há décadas contra a exploração de menores no arquipélago. Segundo o religioso, as crianças se oferecem aos ocupantes das balsas que navegam pelos rios da Ilha com consentimento familiar. Essas balsas, assim como navios, muitas vezes de transporte de carga, passam pela “rota de exploração sexual” que abrangem os municípios de Portel, Muaná, Breves, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista e Gurupá. Crianças e adolescentes vão até essas embarcações de canoa, enviadas pelas suas famílias, para se prostituir em troca de comida ou óleo diesel. Essa violência é tão comum que já é considerada uma “tradição” pelos locais. 

“Ali no estreito de Breves (de um lado do rio fica Breves e do outro Melgaço), existe um foco muito grande de exploração sexual. As nossas crianças sobem naquelas balsas e muitas descem com pequenos objetos, às vezes com pequenos alimentos, um litro de óleo diesel, em troca da exploração do seu corpo. Eu conversei bastante com as duas meninas que foram encontradas nessa balsa. A de 18 disse que desde os 5 anos de idade era explorada sexualmente em troca de comida. Hoje ela diz que é ‘prostituta de balsa’ e que seu sonho é casar com um gaúcho para sair da miséria (as balsas de carga muitas vezes atravessam o país, então passam por lá homens de todas as regiões). A menina de 9 anos disse que subia desde que se entendia por gente, para ganhar comida”, relato de irmã Henriqueta que trabalhou junto de Dom Luiz Azcona na denúncia a essa exploração. 

Apesar das denúncias feitas serem verdadeiras, muitas Fakes News têm circulado sobre o caso, o que levou o advogado-geral da União, Jorge Messias, a determinar a atuação da Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD) na identificação de redes de desinformação sobre a Ilha de Marajó.

Gazeta da Amazônia

Crianças marajoaras subindo em balsa
A senadora Damares Alves (Republicanos) foi uma das acusadas de propagar notícias falsas sobre a ilha. A senadora citou, durante um culto religioso, denúncias de mutilação e tráfico de crianças para a exploração sexual na região. Após o MPF fazer um pedido por informações sobre o caso, Damares disse que as denúncias foram baseadas em relatos e não provas. Após isso, o MPF exigiu retratação pública e uma indenização de 5 milhões de reais por danos sociais e morais à população marajoara.

“Os marajoaras merecem respeito e um tratamento digno de todo o Poder Público”, afirmou o advogado Jorge Messias. 

O turismo sexual não é uma realidade presente apenas no Brasil mas também no mundo, especialmente em países do sul Global, onde existe uma maior desigualdade econômica. A maioria de seus frequentadores são homens que viajam para países da Norte Global (Europa, EUA, etc) para países do Leste e Sudeste Asiático e América Latina. O turismo sexual feminino também existe porém é mais raro. As regiões especificas onde o turismo sexual é mais comum são: Sudeste Asiático, América Latina e Europa Ocidental. Apesar da prostituição ser proibida na maioria desses países, a legislação existente não é cumprida ou é insuficiente, o que contribui para o crescimento e persistência desse fenômeno.

Assim como Norte o Nordeste é a região do Brasil que mais ocorre essa realidade, as regiões turísticas, como as cidades litorâneas, o turismo sexual infantil também é um grave problema, com turistas vindos da Europa e dos Estados Unidos.

Como denunciar:

Você pode usar o Disque 100, o Ligue 180 ou ir direto a uma delegacia especializada. 

Disque 100: usado para denunciar violência sexual infantil e funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Ligue 180: canal de atendimento especializado em violência contra mulher

Delegacia: Você pode ir à uma delegacia da sua região porem uma delegacia da mulher é mais indicada. Você também pode denunciar através de organizações como o Childhood Brazil, SaferNet Brazil, Agência Patrícia Galvão e Pode ser Abuso. Tanto o Disque 100 quanto o Ligue 180 aceitam denúncias anônimas. Você receberá um número de protocolo após denunciar para poder acompanhar o caso. Autoridades investigarão o caso e tomarão medidas cabíveis contra o agressor, como ações judiciais. É essencial que vítimas e não vítimas denunciem esse tipo de crime para que os agressores sejam punidos e para que a sociedade combata esse tipo de violência.


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